24/01/2008



entre o breu e o brilho
armou o cavalete.
pintava fora do quadro
com os dedos em pleno ar
onde o espaço era amplo
e a tela mais macia.
o que ouvia punha ali.
naquele pedaço
de céu de chão de sonho
o pio do passarinho
a voz do vendedor de loteria
o apito do afiador de facas
a correria para o recreio.
os gritos no pátio do colégio
a mãe chamando para o almoço
e o gosto do bife de fígado da avó
poria depois, bem depois
quando tudo estivesse esquecido
num momento em falso
em alguma noite sem estrelas
sem esperança, sem salvação.

pintou e pintou e pintou

até lembrar
definitivamente
que antes de tudo
toda arte existe pra nada.



alexandre brito
de O fundo do ar e outros poemas /
Ameopoema Editora
www.ameopoema.com.br


4 comentários:

  1. Bonita tela, de toques sutis.


    tenho sensações
    entre o escuro e a luz

    no breu olho o nada
    me enxergo claramente
    plano

    à luz
    trafego no limite

    Soninha Porto
    http://soninhaporto.blogspot.com/

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  2. “entre o breu e o brilho” lá está armado o cavalete do artista onde a arte do poeta se pinta! parabéns Alexandre! a imagem que usou para “ilustrar” teu poema se “emoldura” perfeitamente aos versos.
    grande beijo.

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  3. amei este.
    êta comentário ameno...
    ameno mas é meu. e é sincero!
    Bjos
    Cyb

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  4. Amei de paixão a poesia Três Haicais, maravilhosa, divaguei em meus pensamentos,profanos, nas loucuras de de minhas criações mentais.

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