A FLAUTA-VÉRTEBRA
A todas vocês,
que eu amei e que amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto o meu crânio.
Penso mais de uma vez:
seria melhor talvez
por-me o ponto final de um balaço.
em todo caso
eu
hoje vou dar o meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficará na história.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Vladímir Maiakóviski / 1915
tradução:
Haroldo de Campos e Boris Schinaiderman
NACOS DE NUVENS
No céu flutuavam trapos
de nuvem - quatro farrapos:
do primeiro ao terceiro gente;
o quarto - um camelo errante.
A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.
Do seio azul do céu, pé-ante-
pé, se desgarra um elefante.
Um sexto salta - parece.
Susto: o grupo desaparece.
E em seu rasto agora se estafa
o sol - amarela girafa.
Vadímir Maiakóviski / 1918
tradução:
Augusto de Campos
do livro Maiakóvski Poemas
Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos / Editora Perspectiva
Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos / Editora Perspectiva
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