27/08/2009

poesia brasileira contemporanea - contemporary Brazilian poetry
Las Manos del Horror - Guaysamin

a coisa

acelerou na curva
ao entrar na Cavalhada avistou longe um passageiro
na parada uma surpresa. ninguém
fora ilusão de ótica? podia jurar que vira alguém
sua vista aguçada não costumava errar. tudo bem
passava da meia-noite e meia. estava cansado
seria a última viagem antes de recolher

arrancou o carro. engatou uma segunda
virou para comentar o fato com o colega
desaparecera
mais frio que aquela noite de inverno foi o arrepio
que percorreu-lhe. incrédulo olhou uma outra vez
para certificar-se do que acabara de ver
evaporara mesmo. vestígio algum do cobrador

seguiu para o fim da linha direto sem escalas
não pararia nem para o papa
mas nem bem acabara de pisar fundo o acelerador
um ruído. a catraca gira
aquele som não fazia sentido
o sentido da avenida não fazia sentido
o horror agira. a coisa finalmente o atingira

alexandre brito
do inédito Cine ABC

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