21/11/2009




Tem umas coxas quentes
e uns joelhos friíssimos,
uma boca macia,
boa de beijar;
uma ampla bacia,
mas não quer engravidar.
Um narizinho de biscuit,
mas queimado,
e uns olhos que, iguais,
nunca vi.
Tem tanta beleza
que, até sentada à mesa,
me faz saltar o coração
à boca, eu o mastigo
com a torrada coberta de geléia.
Ah, que a tua beleza é nobre, plebéia.
O teu corpo me desfalece,
me adoece, me restabelece,
me embevece, me aquece,
me tenta, me sustenta,
me arrebenta, me reinventa
como se eu fosse o primeiro homem,
com fome da tua carne
desatada entre a mornidão dos lençóis.
Da tua macia e fria carne,
alimento, elemento
do meu verso quando, suspenso pelo vento
da imaginação, me sento
frente ao desafio dessa paixão,
deixando-a guiar a minha mão
pelo branco labirinto do papel
até dar por acabado este retrato,
o teu, abstrato.


Gilberto Wallace


Gilberto Wallace Battilana é poeta, contista, editor da revista Folha de Letras, ministra oficinas de criação literária. Publicou "O artesão da solidão", poemas. Participou de antologias de premiados em concursos de conto e poesia. blogdobattilana@blogspot.com

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