O LIVRO
permaneceu mudo durante anos
suas orelhas ouviram tudo o que fora dito naquele recinto
as palavras
tipograficamente impressas no papel amarelado
nunca lidas nunca folheadas
jaziam inertes
surpreendentemente
numa manhã gelada de inverno
precisamente às onze horas e trinta minutos do dia
treze de julho de mil novecentos e cinqüenta e nove
uma segunda-feira, o inesperado
algo admirável acontece
como formigas diminutas no interior das páginas
letras, sílabas, vocábulos, movimentam-se
parágrafos, diálogos, orações, figuras de linguagem, interrogações
tudo se reacomoda internamente para contar uma nova história
sem emitir qualquer juízo
em quatrocentos e trinta e cinco páginas
um relato fidedigno de tudo quanto presenciara ao longo de décadas
a verdade pode afinal vir à tona
as entranhas de três gerações de uma família centenária
expostas à luz e aos olhos dos interventores
por um capricho do destino
sua espessura é exata para sustentar como calço
o pé quebrado de uma estante no quarto dos serviçais
seu oportuno e conveniente uso é imediato
o pé da página, apóia-se, agora, no roda-pé da parede
alexandre brito
do inédito Cine ABC
Boh, muito legal...bem doidinho mesmo, mas muito lindo.
ResponderExcluirPô sabe que estou gostando cada vez mais de poesia...sempre pensei que poesia não fosse para qualquer um...não que eu seja qq uma...rsrs. mas que a pessoa tivesse que ser muito especial para gostar de poesia...imagina o que eu penso dos poetas rsrsrsrs
Carmem
este Cine ABC!..
ResponderExcluirmuito bom mesmo "O Livro"..
"suas orelhas ouviram tudo o que fora dito naquele recinto"..
viva a poesia de Alexandre Brito!
Ma que cosa! Esse blog tá um primor!!!
ResponderExcluirbeijocas!!
Bem bonito, Alexandre.
ResponderExcluirUm bj
Carmem, Ju, Estrela, Cecilia...
ResponderExcluir"...gracias a lá vida
que nos há dado tanto."
:)
e a mim
o carinho luxuoso
de vcs.
sorriso e beijos!
tuas palavras ganham colo em folhas de papel.
ResponderExcluirtodo lindo o teu blog. fico horas por aqui!
abraços de poema.