02/09/2009


Paulo Leminski

Dia 24 de agosto Paulo Leminski estaria fazendo 65 anos. Dos poetas da sua geração, Paulo Leminski Filho foi aquele que com maior radicalidade integrou a artesania da palavra com a espontaneidade da criação. Sem pudores de rimar humor e dor, seus textos podem ser lidos em múltiplos registros, do culto ao popular, sem perder seu poder de comunicabilidade. Estudioso de línguas e pesquisador da linguagem, sua obra está mais próxima a da "poesia de invenção", e na prosa, ao "experimentalismo", tendo em seu "Catatau" e em "Agora é que são elas", dois momentos altos desta prosa chamada por ele mesmo de "porosa". Mestiço de pai polonês com mãe negra, é dono de uma extensa e relevante obra. Desde cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, trabalhando poemas breves, trocadilhos, brincando com ditados populares. Foi um importante divulgador do haicai no Brasil, gênero da poesia japonesa que praticava com maestria. Aos catorze anos, foi para o Mosteiro de São Bento em São Paulo, onde estudou grego e latin. Participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda onde conheceu Haroldo de Campos, amigo e parceiro em várias obras. Estreou em 1964 com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, porta-voz da poesia concreta paulista. Teve ao seu lado por vinte anos a poeta Alice Ruiz, com quem teve três filhos. Juntos influenciaram decisivamente não apenas a cena da poesia da sua época mas toda uma geração. A música foi uma de suas paixões, proporcionando uma discografia rica e variada. Verdura, de 1981, foi gravada por Caetano Veloso no disco Outras Palavras. Por sua formação intelectual, Leminski é visto por muitos como um poeta de vanguarda, todavia por ter aderido à contracultura e ter publicado em revistas alternativas, muitos o aproximam da geração da poesia marginal. Em 1975 lançou o seu ousado Catatau, que denominou "prosa experimental". Além de poeta e prosista, Leminski foi também tradutor. Sua personalidade inquieta, intensa e carismática, seu pensamento arrojado e inventivo, transformou-o em referência no cenário da cultura brasileira. Conviveu com poetas, músicos e intelectuais de sua época como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Régis Bonvicino, Moraes Moreira, Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, Wally Salomão, Jorge Mautner, Antônio Cícero, Antonio Risério, Julio Plaza, Reinaldo Jardim, Fred Maia, Regina Silveira, Helena Kolody, Turiba, Ivo Rodrigues. Foi tradutor de Alfred Jarry, James Joyce, John Fante, John Lennon, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Entre 1987 e 1989 foi colunista do Jornal de Vanguarda que era apresentado por Doris Giesse na Rede Bandeirantes. Foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 a biografia de Matsuo Bashô. Leminski também era faixa-preta de judô. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 30 anos.


um deus também é o vento
só se vê nos seus efeitos
árvores em pânico
bandeiras
água trêmula
navios a zarpar

me ensina
a sofrer sem ser visto
a gozar em silêncio
o meu próprio passar
nunca duas vezes
no mesmo lugar

a este deus
que levanta a poeira dos caminhos
os levando a voar
consagro este suspiro

nele cresça
até virar vendaval

Paulo Leminski
do livro Caprichos e Relaxos / Brasiliense


SEM BUDISMO

Poema que é bom

acaba zero a zero.
Acaba com.
Não como eu quero.
Começa sem.
Com, digamos, certo verso,
veneno de letra,
bolero. Ou menos.
Tira daqui, bota dali,
um lugar, não caminho.
Prossegue de si.
Seguro morreu de velho,
e sozinho.


Paulo Leminski
do livro Distraidos Venceremos / Brasiliense
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Obra poética

Quarenta clics de Curitiba. Poesia e fotografia, com o fotógrafo Jack Pires.
Curitiba, Etecetera. 1976. (2ª edição Secretaria de Estado Cultura, Curitiba, 1990.) n.p.
Polonaises. Curitiba, Ed. do Autor, 1980. n.p.
Não fosse isso e era menos / não fosse tanto e era quase. Curitiba, Zap, 1980. n.p.
Tripas. Curitiba, Ed. do Autor, 1980.
Caprichos e relaxos. São Paulo, Brasiliense, 1983. 154p.
Hai Tropikais. Ouro Preto, Fundo Cultural de Ouro Preto, 1985. n.p.
Um milhão de coisas. São Paulo, Brasiliense, 1985. 6p.
Caprichos e relaxos. São Paulo, Círculo do Livro, 1987. 154p.
Distraídos venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1987. 133p. (5ª edição 1995)
La vie en close. São Paulo, Brasiliense, 1991.
Winterverno (com desenhos de João Virmond). Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1994.
Szórakozott Gyozelmunk - Distraídos venceremos, tradução de Zoltán Egressy, Hungria, ed. Kráter, 1994. n.p.
O ex-estranho. Iluminuras, São Paulo, 1996.
Melhores poemas de Paulo Leminski. (seleção Fréd Góes) Global, São Paulo, 1996.
Aviso aos náufragos. Coletânea organizada e traduzida por Rodolfo Mata. Coyoacán - México, Eldorado Ediciones, 1997. n.p.

Obra em prosa

Catatau (prosa experimental). Curitiba, Ed. do Autor, 1975. 213p.
Agora é que são elas (romance). São Paulo, Brasiliense, 1984.1 63p.
Catatau. 2ª ed. Porto Alegre, Sulina, 1989. 230p.
Metaformose, uma viagem pelo imaginário grego (prosa poética/ensaio). Iluminuras, São Paulo, 1994.
Descartes com lentes (conto). Col. Buquinista, Fundação Cultural de Curitiba, Curitiba, 1995.
Agora é que são elas (romance). 2ª ed. Brasiliense / Fundação Cultural de Curitiba, 1999.

Literatura infanto-juvenil

Guerra dentro da gente. São Paulo, Scipione, 1986. 64p.
A lua foi ao cinema. São Paulo, Pau Brasil, 1989. n.p.

Biografias

Cruz e Souza. São Paulo, Brasiliense. 1985. 78p.
Matsuó Bashô. São Paulo, Brasiliense, 1983. 78p.
Jesus. São Paulo, Brasiliense, 1984, 119p.
Trotski: a paixão segundo a revolução. São Paulo, Brasiliense, 1986.
Vida (biografias: Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trótski). Sulina, Porto Alegre, 1990. (2ª edição 1998)ENSAIOS
POE, Edgar Allan. O corvo. São Paulo, Expressão, 1986. 80p. (apêndice)
Poesia paixão da linguagem. Conferência incluída em Sentidos da paixão. Rio de Janeiro, Companhia das Letras, 1987. p.287-305.
Nossa linguagem. In: Revista Leite Quente. Ensaio e direção. Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba, v.1, n.1, mar.1989.
Anseios crípticos: peripécias de um investigador dos sentido no torvelinho das formas e das idéias. Curitiba, Criar, 1986. 143p.
Metaformose, uma viagem pelo imaginário grego (prosa poética/ensaio). Iluminuras, São Paulo, 1994.
Ensaios e anseios crípticos. Curitiba, Pólo Editorial, 1997. n.p.

Traduções

FANTE, John. Pergunte ao pó. São Paulo, Brasiliense, 1984.
FERLINGHETTI, Lawrence. Vida sem fim (com Nelson Ascher e outros tradutores). São Paulo, Brasiliense, 1984. n.p.
JARRY, Alfred. O supermacho; romance moderno. São Paulo, Brasiliense, 1985. 135p. lndição editorial, posfácio e tradução do francês.
JOYCE, James. Giacomo Joyce. São Paulo, Brasiliense, 1985. 94p. Edição bilingüe, tradução e posfácio.
LENNON, John. Um atrapalho no trabalho. São Paulo, Brasiliense, 1985.
MISHIMA, Yukio. Sol e aço. São Paulo, Brasiliense, 1985.
PETRONIO. Satyricon. São Paulo, Brasiliense, 1985.191 p. Traducão do latim.
BECKETT, Samuel. Malone Morre. São Paulo, Brasiliense, 1986.16Op. lndicação editorial, posfácio e traduções do francês e inglês.
Fogo e água na terra dos deuses. Poesia egípcia antiga. São Paulo, Expresão, 1987. n.p.

Um comentário:

  1. oi Pessoal.
    aqui é o Alexandre. perdi minha conta google para este blog e por essa razão não consigo mais atualizá-lo. agora tenho um site com blog e tudo o mais. pintem lá no www.alexandrebrito.net.br
    abraço pra todos.
    Alexandre Brito

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