05/04/2009

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cambacicas

meu pai é uma espécie em extinção
dezenas de passarinhos o visitam diariamente
na sacada do apartamento

há um relacionamento de confiança entre eles
Cambacicas, Sanhaços, Saíras, Beija-flores
querem seu quinhão de água doce e guaraná

lê a Zero todos os dias
ouve o noticioso, assiste aos telejornais
não dá mais pra acreditar nos políticos
bandido brasileiro só é bandido no exterior
aqui é ministro, deputado, senador

preocupa-se com os netos, com os amigos
com parentes, o condomínio
comigo como se eu tivesse 48 anos
minha mãe não
pra ela não passei dos oito, treze, dezoito

os passarinhos fazem algazarra na sacada
querem mais do néctar que só ele faz
cada um tem um pai que o trouxe ao mundo
eu tenho um que ainda me trás
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alexandre brito
do inédito Cine ABC

11 comentários:

  1. muito muito bonito esse poema dedicado à teu pai, Alexandre. a imagem das cambacicas é demais!

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  2. que doce de poema.

    teu pai é pura paz :)

    adorei!

    beijos.

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  3. bela fotografia de família, querido Alexandre. Um abraço!

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  4. linda homengem...
    versos de um lirismo sem par:

    "cada um tem um pai que o trouxe ao mundo
    eu tenho um que ainda me trás"

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  5. valeeu gente!!
    valeu mesmo!

    :o)

    e la nave vá...
    bacios e abraccios!

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  6. Aiiiiiiiii, que poema mais lindo, com o frescor das manhãs de primavera; já amei ele qdo ouvi lá no tapas;)
    bjão Ale!!!

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  7. E se nos dão a vida,
    que mais dizer,
    senão, todo dia,
    agradecer.

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  8. Alexandre, meu caríssimo, como me identifico nessa maravilhosa poesia! Acho, inclusive, que todos se identificam...
    Simplesmente fantástica!

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  9. Que mimoso! Adorei o final!
    Beijo.

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